Já por várias vezes me apeteceu escrever sobre este assunto, talvez devido ao cansaço e a ter sempre mil e um pensamentos a correrem na minha mente que não o tenha feito. Aos domingos de manhã quando vou para os jogos, diga-se muitas vezes de madrugada, cruzo-me na estrada com as várias carrinhas das equipas de futebol. É ver meninos a dormitar, outros ainda com cara de sono mas ainda acordados outros ainda encontram-se pelos caminhos à espera que sejam apanhados pela carrinha da sua equipa. Normalmente penso que no fundo todos fazemos o mesmo, acordamos cedo, lá vamos pela carolice ou para alimentar mais um pouco um sonho de algum dia chegar lá. Não é fácil a vida de um árbitro, fazer tudo isto e ainda ser insultado ou ter tolerância zero é frustrante, mas saber que contribuímos para algo melhor na vida destas crianças dá alento, estas crianças e alguns dirigentes que ainda se levantam mais cedo e as vão recolher uma a uma praticamente à porta das suas casas merecem, como merecem ser sempre lembrados os jogadores do Inter da Boavista que recentemente faleceram devido a um acidente numa viagem para um jogo de futebol. Quando me cruzo agora com estas carrinhas lembro deles, nunca os conheci, provavelmente nunca nos cruzaríamos num campo de futebol mas não deixo de pensar que a vida as vezes pode ser cruel, preferia ser ameaçado, insultado e até agredido num ou mais jogos de futebol se com isso pudesse salvar a vida de um só deles.
Não é fácil, um árbitro tem de se desligar de todos os problemas da sua vida pessoal, tem de estar concentrado ao máximo porque ao mínimo erro, ou situação onde possa surgir dúvida os papás de as mamãs vão-nos cair em cima, sem se lembrarem que como os filhos deles erram nós também o podemos fazer.
Para terminar deixo aqui a história deste domingo de manhã.
Este fim-de-semana aconteceu-me uma situação engraçada, ou não, o jogo estava a ser bem disputado e os paizinhos da equipa que estava a ganhar não estavam satisfeitos com o rumo da arbitragem, na altura do segundo golo entra um pai dentro de campo para abraçar os jogadores, ora prontamente o GNR de serviço identificou o senhor. Uma das mulheres que se encontrava nesse grupo começou a gozar com ele a dizer: Queres que te vá levar chocolatinhos quando fores preso?" Ora depois de mais uns quantos palavrões dirigidos à minha pessoa resolvi pedir ao GNR que já que estava com a mão na massa que identificasse a dita senhora.
Quem lhe irá levar os chocolatinhos que tanto gosta?
Quem irá mudar a mentalidade do povo português?
Descansem em paz...